CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO EM EDUCAÇÃO BILÍNGUE E ENSINO DE IDIOMAS

Aprendizagem baseada em Projetos e a BNCC na Língua Estrangeira – uma parceria possível

Juliana Tavares

A partir do ano de 2020, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) passa a vigorar em todo o país. Enquanto isso, o ano de 2019 está servindo como um laboratório para as mudanças que serão necessárias, tanto na forma como vemos o conteúdo quanto na maneira que o abordamos em sala. Como avaliar nossas práticas em relação às expectativas trazidas pela Base? Através de uma reflexão sobre o que é proposto pela BNCC para o ensino do inglês, pretendo elucidar os princípios que permeiam a Abordagem Baseada em Projetos para demonstrar como pode contribuir para a execução eficaz dos princípios e objetivos de aprendizagem determinados pelo documento.

No caso da Língua Inglesa, pela primeira vez temos sua junção às disciplinas de Língua Portuguesa, Educação Física e Arte, formando a área de Linguagens. Isso, por si só, já pode ser considerado um avanço, uma vez que até então a língua estrangeira permanecia isolada de outras disciplinas. Isso nos leva a uma importante recomendação presente no documento: a necessidade de pensarmos os conteúdos de maneira unificada, através da interdisciplinaridade. Nas séries finais do Ensino Fundamental, isso se torna particularmente desafiador, uma vez que a fragmentação do conhecimento passa a ser ainda mais acentuada.

Como objetivos, estabelece-se a necessidade de pensarmos o ensino da língua a partir do engajamento e participação ativa do aluno, como sujeito crítico e cidadão pensante inserido em um mundo globalizado, no qual se tornam cada vez mais necessárias habilidades que transcendem o simples conhecimento mecânico da língua. Através de cinco eixos organizadores – oralidade, leitura, escrita, conhecimentos linguísticos e dimensão cultural – espera-se que a língua seja trabalhada através de múltiplas perspectivas, sempre articulando conteúdos e “agenciamento crítico”, para fins de construção de uma “cidadania ativa”.

Diante de tudo isso, nos resta agora o questionamento e a reflexão sobre o quanto nossas práticas são de fato consoantes ao proposto pela base. E é exatamente neste ponto que proponho voltarmos nosso olhar para a Aprendizagem Baseada em Projetos, (Project-based Learning - PBL). Uma das principais metodologias ativas em voga hoje, PBL nos apresenta uma sala de aula colaborativa e autônoma, na qual o aluno é o protagonista de seu aprendizado. Partindo de uma questão norteadora, os alunos, em conjunto, partem em busca de respostas e de soluções relevantes para a comunidade na qual se inserem, já que o que subjaz essa questão frequentemente envolve um problema concreto que pode ser melhorado, mudado ou resolvido.

Ainda no aspecto da interdisciplinaridade, a Aprendizagem Baseada em Projetos se apresenta como abordagem ideal, uma vez que, a partir de uma pergunta norteadora, diferentes perspectivas sobre um mesmo tópico se convergem, tornando necessária a fusão das diferentes áreas do conhecimento. Se a pergunta norteadora é, por exemplo, who pays for cheap clothes?, temos, além da linguagem e vocabulário necessários em inglês, um leque de disciplinas envolvidas: Matemática, Geografia, História, Arte, etc.

Nessa abordagem, os alunos determinam o rumo de seu projeto a partir da pergunta norteadora e de acordo com o que decidirem apresentar ao público – o que chamamos de produto final. Para chegar a esse fim, o processo conta com muita pesquisa, leitura, formulação de mais perguntas e hipóteses. O direcionamento do projeto deve, é claro, ter a ajuda do professor, a quem é atribuído um papel mediador – é a ele que os alunos recorrem quando precisam de ajuda; é ele quem constrói critérios de avaliação e guia os alunos em seu trabalho. Entretanto, ele não determina sozinho o rumo da pesquisa e não é o centro da aula.

É claro que, neste contexto de aprendizagem, o uso da língua inglesa ocorre por conta de uma necessidade real de comunicação. A leitura – eixo essencial na área de linguagens da BNCC – é uma das principais fontes de informação e pesquisa dos alunos durante a execução do projeto. Através de diferentes recursos, os alunos pesquisam, procuram respostas aos seus questionamentos e usam a língua para se posicionar criticamente no mundo. A escrita, assim como preconiza a BNCC, tem caráter processual e colaborativo e é entendida como uma atividade que exige planejamento e revisão, além de ser uma prática social que permite o protagonismo do aluno.

No que tange a avaliação, a aprendizagem por projetos pode perfeitamente ser aplicada com o objetivo de desenvolver autocrítica e protagonismo nos alunos, habilidades preconizadas na BNCC. Dentro da perspectiva dessa abordagem, a avaliação se destaca por seu caráter processual, formativo e individualizado. Além disso, é forte a responsabilidade do aluno em construir com o professor critérios claros de avaliação, para que seja responsável por seu desempenho e tenha a capacidade de se auto avaliar.

Finalmente, é preciso que levemos em conta uma maneira de ensinar e aprender que esteja em sintonia com as habilidades do Século 21, tão necessárias para criarmos cidadãos responsáveis, críticos e prontos para construir um mundo melhor. Já temos as ferramentas. Basta apenas fazermos bom uso delas.




Para saber mais:

Tavares, J.F. Potter, L.E. Project-based Learning Applied to the Language Classroom. São Paulo, Teach-in Education, 2018. Disponível para compra em: https://www.amazon.com.br/Project-Learning-applied-Language-Classroom-ebook/dp/B07BBRJ4XF/ref=sr_1_1?s=digital-text&ie=UTF8&qid=1520859423&sr=8-1&keywords=project-based+learning+language

Buck Institute for Education: https://www.pblworks.org/

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