CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO EM EDUCAÇÃO BILÍNGUE E ENSINO DE IDIOMAS

Aplicando a aprendizagem baseada em projetos à educação midiática de qualidade

Juliana Tavares

Se você é educador, muito provavelmente já deva ter visto o termo “nativos digitais”, cunhado pelo professor Marc Prensky e muito utilizado para reforçar a necessidade de trabalharmos com tecnologia em nossas aulas. Segundo o autor, a educação deste século tem em suas mãos uma geração que já nasce com os dedinhos em telas de smart phones, sabe como ninguém utilizar recursos digitais para fazer o que bem entende e navega sem bússola nesse universo em que nossa geração ainda precisa de muita tutoria. O abismo existente entre o que nós fazemos com a tecnologia e a forma como nossos alunos a utilizam nos leva a concluir que certamente não há necessidade de ensinarmos nada a eles, certo? Infelizmente, não é bem assim.

De fato, a crença de que não precisamos “ensinar” nossos alunos a lidar com o mundo digital é tão ingênua quanto achar que temos total controle sobre o que vemos em nossas redes sociais. Justamente por serem capazes de transitar tão bem entre os mais variados aplicativos, redes sociais e programas é que nossos alunos necessitam de tutoria capacitada para orientá-los em suas escolhas e comportamentos online. Portanto, nosso trabalho como educadores é, mais do que nunca, desenvolver em nossos alunos competências e habilidades para utilizar a internet de forma segura, crítica e, acima de tudo, para a construção da cidadania. Isso não é algo que se nasce sabendo, mas que deve ser contemplado ao longo da educação formal, sempre, é claro com o apoio da família.

Daí a importância de falarmos sobre Educação Midiática e de refletirmos, como educadores, sobre a melhor maneira de incluir essa reflexão em todas as áreas do conhecimento, transdisciplinarmente. Letramento midiático é responsabilidade de todos, independentemente da disciplina que lecionamos. Deve fazer parte de nossa prática diária e deve ser um de nossos objetivos de aprendizado. O assunto é tão presente e tão necessário que está contemplado em todos os campos de aprendizado da BNCC. A ideia é que a escola seja cada vez mais o lugar de debate e de ações contra a desinformação, transformando nossos alunos de meros usuários passivos em cidadãos digitais críticos e atuantes.

Recentemente tive a oportunidade de aprender um pouco mais sobre Educação Midiática com o pessoal do Educamídia*, em um curso oferecido gratuitamente no Instituto Singularidades. Foram três dias intensos de trabalho e conhecimento mediado por profissionais que nos mostraram que trabalhar com mídias na sala de aula não apenas dispara o interesse e engajamento dos alunos, mas também pode mostrar a eles como participar ativamente e com reponsabilidade no mundo digital. Dentre as muitas oficinas, trocas com outros colegas e momentos de reflexão, foi possível identificar que a forma de trabalhar esse conhecimento não pode ser outra senão através das metodologias ativas. É essencial que o professor busque a destreza no trabalho com as mídias e as ferramentas de construção de conteúdos, o que por si só já é um desafio e tanto. Porém, a familiaridade e a simpatia com abordagens de ensino que promovam a agência do aluno são fundamentais.

No que tange as abordagens de ensino, pode-se vislumbrar inúmeras oportunidades de unir a aprendizagem baseada em projetos aos princípios da educação midiática. Através da abordagem baseada em projetos, o aluno tem a oportunidade de investigar o que lhe instiga mais interesse em colaboração com outros. Descobre, explora, constrói sentido a partir da informação pesquisada, para então propor soluções aos problemas identificados e produzir conhecimento para a vida.

Na busca por respostas e informações, a internet se torna a principal fonte de pesquisa. É nesse momento que o uso consciente, a checagem de informação e a cidadania digital se tornam fatores cruciais na qualidade do produto final realizado. Sem tais habilidades, resta apenas o copy and paste, a consulta apressada e o risco de desinformação através de notícias falsas, fontes tendenciosas e veículos disseminadores de pseudociência.

No trabalho com projetos, o professor deve sempre priorizar a agência do aluno, o que torna o primeiro um guia e facilitador da investigação do último. Dessa forma, grande parte de nosso trabalho como educadores consiste também de retomar o nosso aprender. Aprender a nos tornar melhores cidadãos digitais; aprender a checar as notícias que chegam a nós antes de disseminá-las como verdades; aprender a preparar curadorias de qualidade, com fontes diversas e gêneros textuais variados; aprender que somos os grandes elementos disparadores do interesse e da curiosidade de nossos alunos e que sem isso não haverá engajamento.

A produção final de um projeto também se beneficia grandemente da educação midiática de qualidade. Buscar a melhor forma de divulgar os resultados alcançados para um público autêntico, faz parte do sucesso de um produto final. Para isso, não basta apenas o conhecimento técnico das ferramentas disponíveis, mas saber tirar o melhor proveito do material que se tem em mãos, de forma a transformá-lo em uma experiência interessante para o espectador. Em termos práticos, não basta saber utilizar o app de edição de vídeos se o conteúdo não está estruturado de forma adequada, se o aluno desconhece a importância e a forma como citar as fontes, se não houve checagem dos fatos inseridos e se não há organização do que se quer transmitir.

Nada disso é inerente aos nossos nativos digitais. Pelo contrário, eles estão sedentos por esse conhecimento e é nosso dever proporcionar a melhor forma de aprendermos todos juntos. Promover espaços de diálogo e crescimento dentro da escola é nossa urgente responsabilidade, se quisermos um futuro no qual a internet é uma ferramenta para a construção de um mundo melhor.

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