By - Marina Farias
Já se passou quase um ano desde o primeiro registro de Covid-19 no mundo, mas a humanidade ainda busca repostas concretas para os questionamentos que surgiram com a doença. Tivemos que ressignificar muitos dos nossos conceitos enquanto sociedade e, embora todos os segmentos precisem lidar com os contratempos causados pela pandemia, sempre esteve claro que a educação seria uma das áreas mais impactadas pelas incertezas dessa nova realidade.
Por um certo período, trabalhou-se com a hipótese de imunização e alguns profissionais nutriram a expectativa de retomar os antigos hábitos antes do término de 2020. Contudo, perante a iminência da segunda onda de contágio e a falta de vacina contra o Coronavírus, hoje constatamos que a relação da escola com o aluno ainda enfrentará numerosas restrições e distanciamento. É verdade que muito se vem debatendo sobre a importância do ambiente escolar para a saúde mental das crianças e para a construção da psique humana, mas ninguém sabe ao certo como unir de maneira eficaz esse espaço tão essencial à necessidade prioritária de preservar a vida.
Como resultado do impasse, a educação continua a sofrer reveses: a defasagem na aprendizagem se escancara, a evasão escolar aumenta e a desigualdade social se agrava. Obviamente, esses desafios se atenuam quando encapsulados em bolhas como a do ensino privado, pois com acesso a computadores, smartphones e tecnologias Wi-Fi, a incidência de evasão entre os alunos da rede particular é bem menor se comparada aos da rede pública. Por outro lado, a tecnologia não garante um espaço 100% adequado para o aprendizado, especialmente se as crianças e adolescentes em questão dividem o cômodo com os demais moradores da casa na hora de estudar.
O retorno às atividades presenciais é outro aspecto que vem tirando o sono de muitos educadores e é pauta inadiável para o primeiro semestre de 2021. Sem dúvidas, a escola sofreu e ainda sofre muita pressão para que adapte sua rotina e abandone o modelo virtual. Porém, nas tentativas de retomada que acompanhamos ao longo do ano, muitos profissionais foram afastados por suspeita ou diagnóstico confirmado de Covid-19, levando escolas ao redor do Brasil a fecharem suas portas mais uma vez.
Diante disso, a escola se encontra novamente na encruzilhada de incertezas que são as medidas de prevenção contra o Coronavírus. Afinal, será possível ter uma perspectiva otimista de futuro em meio a este cenário trágico?
O fato é que estamos vivenciando uma transformação profunda nas estruturas da nossa sociedade e a escola jamais passaria ilesa por um processo de transição tão relevante. Apesar das baixas, nós nos provamos capazes de acessar uma fonte inesgotável de habilidades e, como educadores, aprendemos a integrar inúmeros tipos de mídia e tecnologia às nossas aulas, ajustamos a sala-de-estar para transmitir nossos saberes e mostramos que é possível nos conectar uns aos outros mesmo a quilômetros de distância. Fizemo-nos criativos, colaborativos, adaptáveis e perseverantes em decorrência da adversidade, do medo e do inexplorado.
Olhando para trás, percebo que o conhecimento que adquirimos em 2020 é irrefutável e, a partir desse marco histórico, não será possível recuar, nem fazer o caminho de volta ao modelo antigo e tradicional de escola. A estrada a percorrer rumo ao futuro da educação é sinuosa, mas professores e alunos descobriram, juntos, que são capazes de ir além e de conquistar coisas incríveis mesmo em situações desafiadoras.
Que em 2021 tenhamos força e coragem para continuar lutando com amor e dedicação pela boa qualidade do ensino, que enxerguemos o mundo sempre com os olhos fixos na esperança de um futuro melhor e que as pedras no caminho não sejam obstáculos, e sim matéria-prima para a construção de novas pontes.
BIO:
Marina Farias é professora de inglês e escritora. Nascida na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, cursou Letras e Literaturas pela UFRRJ entre os anos de 2010 e 2014. Em 2015, mudou-se para São Paulo buscando se concretizar profissionalmente e, na cidade, descobriu o verdadeiro amor pela educação. Hoje, mora em Jundiaí e trabalha principalmente com crianças e adolescentes — a quem ensina, mas, acima de tudo, com quem aprende e compartilha conhecimento.
Contato: marinafariasescreve@gmail.com
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