By - Aline Aguirre
Ouço com certa frequência esse lamento entre meus candidatos a aluno, e então acabei me acostumando a ele. Eu gostaria de dizer “eu também não” só para causar impacto, mas estaria mentindo. Eu sempre adorei aprender línguas.
- E do que você gosta? – invariavelmente pergunto.
As respostas costumam ser pouco variadas. “De filmes, de música (ou de cantar), de séries, de viajar”, ou alguma variação sobre os mesmos temas.
- Você sabe, podemos fazer isso em Inglês.
O candidato a aluno sabe. Mas não acredita que seja capaz. Ou que seja possível. Ou tão frequente quanto gostaria. Ou todas essas coisas juntas. “De qualquer maneira, o professor pode trazer de vez em quando algo que eu goste”. Na verdade, não é essa a minha ideia.
- E para quê você precisa falar Inglês? – pergunto em seguida.
E, novamente, a resposta pouco varia. “A empresa requer” ou “Serei menos qualificado que os demais se não souber”.
E esta conversa segue comigo explicando para meu possível aluno que o Inglês é só um meio que o levará aonde ele quer chegar. O que o traz a mim é uma intenção de ser bem-sucedido, isso sim. Mas que esse meio não precisa ser, necessariamente, espinhoso, árduo, sofrido. Pode vir a ser uma viagem bastante agradável, até.
Olham-me com desconfiança, normalmente.
Explico que, se ele quer chegar a algum lugar, precisa de um meio que o leve. Se for uma viagem, por exemplo, ele pode escolher ir de avião, de carro, de barco – depende de onde quiser ir, o que for mais conveniente e menos incômodo. Mas que, por mais que ele escolha o menos incômodo, todo meio pode ser, de uma certa forma, desconfortável: o avião pode atravessar uma turbulência; a estrada pode ser de terra e estar esburacada; as ondas podem lhe causar náuseas. Mas isso só se ele prestar atenção demais ao transporte. Se, em vez disso, ele focar toda sua atenção à paisagem, e essa paisagem for interessante o suficiente, o desconforto parecerá bastante menor. Talvez até desapareça em determinados momentos, dependendo de quão fascinante for a vista.
O aluno quer chegar ao sucesso. O Inglês é o meio. Mas as paisagens, essas podemos escolher, juntos. E, especialmente para esses alunos que não gostam de Inglês, costumo abandonar os coursebooks para então planejarmos, juntos, nosso roteiro de viagem.
Planejar um ‘tailor-made course’ não é tão difícil quanto parece. A ideia é bastante simples até: ver de onde o aluno parte em relação à sua habilidade com o idioma. E então analisar, de acordo com o que o aluno almeja, os assuntos mais e os menos relevantes para as aulas, e os ordenar de acordo (acredito ser sempre mais útil começar pelos assuntos de maior impacto imediato na vida do aluno) para depois escolher os detalhes que se encaixem nos temas a serem vistos: as músicas, ou as cenas dos filmes, ou os vídeos do YouTube, ou os Ted Talks, ou os documentários, as fotografias, as propagandas, as entrevistas, ou o que julguemos relevante para a finalidade. A internet é uma fonte vasta e riquíssima em material autêntico, real, significativo para o aluno. Seria um desperdício não utilizá-la.
Essa é uma verdade à qual posso testemunhar: enquanto o aluno estiver interessado no assunto da aula, enquanto o assunto for relevante para sua vida, e estiver disposto de forma artística a pescar sua atenção, e isso trouxer mais vontade de estar ali comigo, menos esse aluno se preocupa se o Inglês é difícil, se as regras têm exceções mil, se as preposições não casam com as do Português, se o tempo verbal deveria ser perfeito.
Quando me perguntam sobre mim, onde quero chegar profissionalmente, sempre venho com o velho tripé filosófico: almejo “o bom, o belo e o verdadeiro”. Transformar a aula sobre o funcionamento da língua Inglesa em uma experiência ao mesmo tempo cognitiva, artística e prática. Desafiar a mente, provocar os sentidos, convidar à ação.
É um longo caminho até lá. Mas a paisagem tem compensado enormemente.
Aline Aguirre é professora de Inglês há 22 anos, a maioria deles dedicado a programas de ESP (
https://www.facebook.com/AlineAguirreELT/
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