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Os caminhos e desafios da acessibilidade – entrevista com Juliana Fernandes de Moraes

Promover ambientes escolares mais acessíveis a pessoas com deficiência é hoje uma das grandes preocupações e um desafio para gestores, professores e familiares. Sabemos que é uma busca conjunta e que sua implementação não ocorre da noite para o dia. Entretanto, é preciso que haja mobilização por parte de todos e o apoio de pessoas especializadas é fundamental durante o processo. Pensando nisso, a Teach-in entrevistou a tradutora e intérprete de Libras Juliana Fernandes de Moraes para entendermos melhor o que é acessibilidade e como podemos ser agentes de transformação na escola.

Teach-in: Creio que a primeira pergunta que devemos fazer é sobre o conceito de acessibilidade, já que muito temos ouvido em sobre o assunto. Apesar do termo ser bastante utilizado, muitas vezes percebemos que seu uso é feito de maneira um tanto confusa. Então, para começarmos, o que é acessibilidade e por que ela importa?

Juliana: Como bem descrito na pergunta, o conceito de acessibilidade é amplo e diversificado, porém não tão complexo assim se pensarmos que acessibilizar ou tornar acessível algo significa tonar possível, atingível, palpável e utilizável. Acessibilidade então é tudo aquilo que acessa e que rompe barreiras ou limitações. Obviamente cada deficiência exige especificidades no estabelecimento das formas de acessibilidade, um dos motivos da amplitude do conceito também. Acessibilidade importa porque promove condições de igualdade e de equidade, como também formas de equilíbrio e justiça nas mais diferentes esferas da vida.


Teach-in: Em seu trabalho como intérprete, com qual frequência você se depara com crenças equivocadas a respeito da surdez? Como diferenciar a ignorância gerada pela falta de informações da ignorância gerada por estigma e preconceito?

Juliana: É ainda muito raro se ter um primeiro contato com pessoas que tenham bons conhecimentos a respeito da surdez. É muito requerido e recorrente também nosso papel enquanto educadores e consultores sobre a temática. Acredito e percebo que o preconceito, nos últimos anos, tem perdido forças por conta dos diversos esforços e da militância que as comunidades minoritárias se empenham em realizar. O estigma é um paradigma individual, mais resistente e difícil de ser quebrado, leva tempo e necessita de uma cultura de informações bem estabelecidas para ser vencido. Sou bastante otimista, acredito que “subimos degraus” e precisamos continuar neste crescente processo.


Teach-in: Dentre os equívocos cometidos por muitas pessoas, estão os relacionados ao uso de termos ofensivos para denominar uma pessoa com deficiência. Você poderia discorrer sobre os termos que devemos escolher para evitar palavras ofensivas?

Juliana: Deficiente é um termo por si só pejorativo, carrega um peso em si. Portador de deficiência, pois portamos coisas ou objetos, não uma condição temporária ou definitiva de vida. Especial ou excepcional também são adjetivos para outros fins, não para nomear uma condição de vida. Palavras no diminutivo como, por exemplo: surdinho, mudinho, tortinho ou ceguinho são exemplos de falta de educação e respeito. Aleijado também é um termo fortemente discriminatório. Usar o termo Pessoa Com Deficiência é atual, educado e amplamente utilizado.


Teach-in: Em sua opinião, quais são algumas estratégias pedagógicas que podem ser desenvolvidas para trabalhar a inclusão em sala de aula de forma inovadora?

Juliana: Primeiramente tanto a escola enquanto instituição, quanto o professor daquela sala de aula precisam entender que alunos estarão em sala de aula, entender qual ou quais as deficiências envolvidas, para então buscar tanto na formação continuada e literatura disponível, quanto nas demais entidades que lidam com as demandas específicas daquela(s) deficiência(s), as informações atualizações e inovações sobre as melhores experiências e práticas pedagógicas. Contar com rede de apoio profissional é um caminho muito produtivo e promissor, pois “ninguém reinventa a roda”. Inclusão é um termo ainda mais abrangente que a acessibilidade, pois um leque infinito de possibilidades pode ser aberto. Neste caso se faz necessário ter foco e assertividade nas demandas e necessidades específicas de cada aluno em sala de aula.


Teach-in: Qual são os caminhos para que uma escola se torne um lugar de fato acessível a pessoas com deficiência?

Juliana: Os caminhos estão no dia a dia, nos fazeres a cada aula, em cada sala, com cada aluno, nas atitudes de todos os professores e cada profissional envolvido neste processo, atendendo a demandas e necessidades individualizadas para que aquele aluno se desenvolva e aprenda com autonomia, sendo plenamente contemplado nas suas necessidades de acesso real. Os caminhos estão nos detalhes das práticas, mas também estão embasados pelas teorias e estão nas forças tanto das militâncias quanto das legislações. São caminhos e necessidades que se entrecruzam num grande e mobilizador processo.




*Se você quiser entrar em contato com Juliana, acesse: https://www.linkedin.com/in/julianafernandestils/

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